Ansiedade, depressão e pandemia: Coronavírus afetou a saúde mental da humanidade
11 de março de 2020: todas as manchetes de todos os jornais do mundo inteiro não acreditavam no que estavam noticiando. Eis que a humanidade se deparava com um anúncio crucial, que mudaria, para sempre, o curso da história. Lá estava o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), rodeado de autoridades globais da Organização das Nações Unidas (ONU) e coberto pelo mundo inteiro, a declarar uma pandemia de coronavírus, a todas as partes do planeta; de centros globais, como Nova Iorque, até vilas interioranas no meio da floresta amazônica.
Então, tudo mudou bruscamente. O desconhecido tomou conta de uma sociedade, que já antes sofria com flagelos psicopatológicos. A certeza deixou de ser certa e a incerteza tornou-se palavra-chave no pensamento de todos. Com esse cenário inimaginável, que os jovens pensavam acontecer apenas em filmes de ficção científica, o medo se generalizou.
Com isso, pessoas que sofriam de depressão e ansiedade caíram em abismos; predispostos passaram a desenvolver tais doenças; e, até mesmo pessoas saudáveis passaram a apresentar níveis das ditas patologias.
Mas a ansiedade e a depressão já não eram tidas como “normais” antes da pandemia?
É fato que, já há alguns anos, as palavras “depressão” e “ansiedade” se tornaram presentes em nosso vocabulário cotidiano, visto que a solidão, os traumas, o estresse, o histórico familiar e as disfunções hormonais já arrasavam todo o globo. Contudo, também é fato que a própria sociedade já moldava um cenário favorável para o agravamento destas doenças psiquiátricas, que explodiram durante a pandemia do novo coronavírus.
Antes deste divisor de águas, doenças psiquiátricas, como a ansiedade e a depressão, já eram recorrentes nos consultórios e clínicas. As rotinas exaustivas no trabalho, a vida caótica nos grandes centros urbanos, as tragédias diárias, a má alimentação, o consumo demasiado de informação ao longo do dia, dentre tantos outros fatores, agravavam, a cada dia, os números de depressão e ansiedade em toda a Terra.
Como a pandemia afeta nossa saúde mental?
Logo que o anúncio da pandemia foi feito, o mundo parou. No dia seguinte, as escolas começaram a fechar, como que em sincronia, ao balançar da orquestra que o mundo vivia naquele momento. De uma hora para outra, a humanidade foi posta em casa, com seus medos e aflições, suas angústias e incertezas. Não se sabia ao certo o que o vírus era capaz de provocar, não se sabiam ao certo os sintomas, as consequências a curto, médio e longo prazo, os riscos.
Ali, todos os planos individuais foram pegos de surpresa, todas as aspirações e sonhos foram desmoronados e levados pela correnteza.
À medida que os dias iam se passando, que os 15 dias de quarentena se prolongavam a meses, que um termo chamado de “novo normal” era divulgado, a doença matava milhares a cada dia. Com isso, o desespero tomava conta de todas as ordens; a geladeira se esvaziava, as conexões eram impossibilitadas, sorrisos eram cobertos por máscaras e a solidão tornou- se uma chave para a sobrevivência, com o distanciamento social. O cenário era mais do que perfeito para o “boom” de casos de depressão e ansiedade na população mundial.
Por que a depressão aumentou na pandemia?
Segundo uma pesquisa, feita em dezembro de 2020, pela CDC, nos Estados Unidos, 42% dos entrevistados afirmaram ter sintomas de ansiedade e/ou depressão. Tal fato é alarmante, pois significa um aumento de mais de 200% na taxa, se comparada à média do ano anterior. Em países como o Japão e a França, as taxas de suicídio dispararam, assim como os índices de depressão e ansiedade, que se multiplicaram com o passar dos meses. Mas por que esses índices aumentaram tanto?
Luto, solidão, dificuldades financeiras, perda de emprego, chamadas pelo Zoom, isolamento, monotonia, notícias devastadoras diárias. A quarentena não foi para iniciantes. Só o fato de pensar que os hospitais estão superlotados, que você pode estar doente e levando a doença a outras pessoas, que não é seguro sair de casa e que há gente passando necessidade é perturbador.
De acordo com pesquisadores, a pandemia fez com que as pessoas desenvolvessem hábitos nada saudáveis, não dormissem adequadamente, se sentissem incapazes de lidar com a situação e acabassem por se sentir exaustas e improdutivas. Tal fato é um combustível para o desenvolvimento de quadros de depressão e ansiedade.
Quem mais sofreu com o aumento dos índices de depressão e ansiedade?
Certamente, a resposta para esta pergunta parece ser simples. Todavia, não é uma tarefa fácil listar todos os grupos de pessoas que sofreram- e ainda sofrem- durante a pandemia do novo coronavírus. Até porque é quase impossível ter saído ileso destes tempos difíceis.
Apesar disso, pode-se afirmar que houve registro de níveis traumáticos, que terão consequências futuras diferentes. Por exemplo, o impacto da pandemia em uma criança pequena de classe alta, rodeada por amigos e pela família, que se manteve emocionalmente estável e mentalmente saudável será drasticamente diferente do impacto causado em um profissional da saúde, que fez plantões de 36 horas seguidas, em um hospital público, com poucos recursos.
A professora de neuropsicologia clínica da Universidade de Cambridge, Barbara Sahakian, explica que os mais afetados são enquadrados em algumas categorias. Segundo ela, jovens adultos, mulheres, pais de crianças pequenas, profissionais de saúde de linha de frente e com menor instrução, comunidades negras e hispânicas e aqueles que já apresentavam quadros de problemas de saúde mental, antes da pandemia, são os que mais sofrem com os impactos.
Ao final, a pesquisadora concluiu que as pessoas que conseguiram manter fortes vínculos sociais “demonstraram muito menos alterações cognitivas depressivas e negativas”. Além dos grupos citados pela professora, pode-se acrescentar o grupo de crianças e jovens, diretamente afetados pela falta de aulas presenciais, adultos com risco de perder o emprego (ou até mesmo que o perderam) que sustentam a família, trabalhadores liberais, mães que tiveram que sair do trabalho, pois não tinham onde deixar os filhos, por causa das creches fechadas.
O ser humano necessita de contato físico, de interação, em todas as fases da vida, visto que esta socialização é uma das características que nos diferenciam dos demais animais.
Como saber se desenvolvi ansiedade durante a pandemia?
Primeiramente, é necessário sintetizar o que é considerado ansiedade. A ansiedade é uma reação natural a algumas situações da vida, como na véspera de uma prova muito importante ou de uma entrevista esperada por anos. O problema, segundo os profissionais da saúde, acontece quando esses eventos se tornam intensos e frequentes, fazendo com que a
qualidade de vida seja comprometida.
Como, durante a pandemia, a população se encontrou em um estado de desespero, sem contato social com a família, amigos, colegas e pessoas em geral, a angústia, a apreensão, o medo, o nervosismo e a preocupação foram tomando conta do cotidiano de muitas pessoas, que não sabiam mais como proceder com a vida. Além disso, há os casos de pessoas que já estavam predispostas a desenvolver ansiedade, que eram, antes da pandemia de coronavírus, aceleradas e angustiadas. Assim como homens e mulheres, tidos como saudáveis emocional e mentalmente falando, que acabaram por desenvolver ansiedade pelo uso excessivo de redes sociais, da televisão, do celular e da internet.
Visto que, segundo um estudo elaborado pelo Canadian Journal of Psychiatry, o aumento de casos de ansiedade entre jovens está relacionado ao ato de passar muito tempo exposto a telas. De acordo com o estudo, quanto mais tempo os jovens ficavam expostos às telas, mais sintomas de ansiedade eram relatados.
Tal estudo serve como embasamento para afirmar que, assim como os jovens estudados, o restante da população também sofreu bastante com a ansiedade causada pelo uso excessivo de telas. Uma vez que, em casa, o famoso tédio chegava, as telas se tornavam mais do que um refúgio deste mundo tão cruel. Ademais, o medo e a necessidade de ter a vida sob controle fez com que muitas pessoas passassem o dia inteiro olhando as notícias em tempo real, afetando diretamente na recepção das informações e causando um sentimento de angústia, o que levou muitos a severos casos de crises de ansiedade.
Portanto, apesar de terem sido tão benéficas durante a pandemia, as telas foram inimigas da saúde mental, pois há também muitos malefícios em seu uso exagerado. Como as horas a fio de uma aula online, tiravam o ânimo dos estudantes, principalmente das crianças, que amam ir para a escola, para brincar com os colegas; assim também a pandemia do covid-19 causou um desânimo em trabalhadores que, angustiados, não tinham nem mais como ir trabalhar e colocar comida na mesa.
Este sentimento de desespero multiplicou o número de pessoas dando entrada em hospitais, com crises de ansiedade, sem ao menos saber que estavam sofrendo deste mal.
Assim, se você sente crises com sintomas como: taquicardia, cefaleia,dores musculares, boca seca, medo, sensação de desmaio, inquietação, insônia, incapacidade de relaxar, dificuldade de concentração, sentimento de estar “no limite”, embrulho no estômago, preocupações com desgraças futuras, dores no peito, pensamentos catastróficos, sudorese, falta de ar, náusea, formigamento, tremores e/ou calafrios com frequência, após o período da quarentena, muito provavelmente você desenvolveu um quadro de ansiedade.
A vida vai voltar ao normal?
Eis o grande questionamento. Depois daquele 11 de março, o mundo nunca mais será o mesmo. Há quem diga que, após as vacinas, tudo vai voltar ao normal, mas não temos como ter certeza. Se formos analisar os demais eventos históricos, perceberemos que nada mais voltou ao que era antes, pois a humanidade está em constante evolução. Contudo, é certo que os estigmas que as doenças mentais, provocadas pela pandemia, causaram à população ainda se arrastarão por anos a fio.
Há esperança de que novos métodos sejam desenvolvidos ou até mesmo que depois das vacinas, tudo volte a ser como era. Mas após um trauma tão grande, caminhamos para uma nova era, a qual só descobriremos com o tempo. Infelizmente, é difícil afirmar que os casos de ansiedade e depressão irão diminuir após a pandemia, graças ao estilo de vida que estamos submetidos a viver.
Portanto, uma saída plausível é a prevenção e o tratamento, através da prática de exercícios físicos, uma alimentação balanceada, prática de meditação, frequentar psicoterapia, cultivar hobbies, consumir menos informações por dia, limitar a exposição a telas, dentre outras medidas, a fim de que, ao menos, os flagelos sejam amenizados e a sociedade venha a ser mais feliz.
Saiba mais sobre ansiedade e depressão no link abaixo:
https://www.campograndenews.com.br/artigos/no-brasil-44-afirmam-que-tiveram-problemas-psicologicos