Como psicólogo clínico com 20 anos de experiência, tenho observado com crescente preocupação o aumento da ludopatia no Brasil, especialmente relacionado ao jogo do “tigrinho” e as apostas esportivas. O que antes era considerado um problema isolado, está se tornando uma questão de saúde pública, com consequências profundas para indivíduos e suas famílias.
O jogo do “tigrinho” é um exemplo claro de como o vício pode se infiltrar nas comunidades. Este tipo de jogo, muitas vezes operado de forma ilegal, atrai pessoas com a promessa de ganhos rápidos, mas na realidade, leva muitos à ruína financeira.
Outro fenômeno são as bets. Um estudo recente do Itaú, revelou que o brasileiro gastou R$ 68,2 bilhões em apostas, em apenas 12 meses. Embora promovidas como uma forma de entretenimento, as apostas esportivas rapidamente se transformam em um vício para muitos. Estudos indicam que cerca de 5% dos apostadores desenvolvem algum nível de dependência, com um impacto desproporcional sobre os jovens, que são particularmente suscetíveis a esse tipo de compulsão.
A neurociência do vício em jogos de azar revela o papel crucial da dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à motivação. Quando uma pessoa ganha, mesmo que seja uma quantia pequena, o cérebro libera dopamina, criando uma sensação de euforia. Esse prazer imediato pode levar a um ciclo vicioso, onde o jogador continua voltando ao jogo, na esperança de repetir a sensação, mesmo quando as perdas superam os ganhos. Esse ciclo afeta profundamente a saúde mental, contribuindo para o desenvolvimento de ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos.
As consequências da ludopatia são devastadoras. Além das perdas financeiras, que podem levar ao endividamento e à falência, o vício em jogos de azar também destrói relações familiares e sociais. O estresse e a tensão causados pelo vício frequentemente resultam em conflitos familiares, levando a deterioração do núcleo familiar e ao isolamento social. Do ponto de vista da saúde pública, a ludopatia é um problema crescente que exige uma intervenção eficaz.
Como psicólogo clínico, sei que o tratamento da ludopatia é desafiador, mas essencial. A psicoterapia é uma ferramenta valiosa para ajudar os indivíduos a entender e gerenciar seus comportamentos compulsivos. Além disso, em alguns casos, a medicação pode ser necessária para tratar sintomas associados, como a ansiedade e a depressão, fornecendo suporte adicional no processo de recuperação.
A ludopatia no Brasil, impulsionada por jogos como o “tigrinho” e as apostas esportivas, é uma crise em expansão que não pode ser ignorada. As estatísticas revelam um cenário preocupante, com consequências graves para indivíduos, famílias e a sociedade. A conscientização e o acesso ao tratamento são fundamentais para enfrentar essa crise e oferecer esperança àqueles que lutam contra esse vício destrutivo.
* Marcelo Comparin, é Psicólogo em Campo Grande MS.