Depressão na adolescência
Nos últimos anos, a saúde mental de jovens e adolescentes se tornou assunto recorrente. Isso se deve uma diminuição do estigma sobre saúde mental, de forma geral, mas também à maior presença desses temas na mídia.
Porém, essa visibilidade, por sua vez, é uma consequência da própria experiência da população. Afinal, a depressão na adolescência se demonstra importante tema de saúde pública já há alguns anos, principalmente devido ao seu aumento ao redor do mundo.
Tanto familiares quanto o próprio adolescente podem ter dúvidas sobre o assunto. Entender como a depressão afeta o indivíduo e como lidar com ela é o primeiro passo para evitar que ela afete negativamente seu desenvolvimento.
Para ajudar você a entender melhor o tema, vamos falar um pouco mais sobre a depressão na adolescência, seus sintomas, causas e como lidar com esse transtorno.
Definindo depressão
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, define o Transtorno Depressivo Maior (que chamamos de “depressão”) como um transtorno que provoca mudanças comportamentais e cognitivas, com prevalência de um sentimento de tristeza, irritabilidade e/ou apatia, sendo que esse estado é recorrente, em vez de um evento isolado.
É importante lembrar que, mesmo que o tema já seja bem conhecido, a palavra “depressão” ainda é usada de forma bem liberal para se referir a episódios de humor mais negativos. Nem sempre esses episódios são associados a um caso de depressão clínica, podendo representar flutuações normais e saudáveis de humor ou ser resultado de um evento particular.
Quanto à depressão clínica, ela apresenta tanto causas sociais/ambientais quanto biológicas, o que requer análise complexa e minuciosa. Por isso, é essencial ter a opinião de um profissional de saúde mental para confirmar o diagnóstico.
Sintomas da depressão
Os sinais da depressão podem variar bastante de acordo com cada pessoa, tanto em natureza quanto em intensidade. Dois jovens que sofrem com depressão podem manifestá-la de formas bem diferentes. Veja, a seguir, alguns dos principais sinais que podem ser identificados.
Sintomas emocionais
Muitos dos sintomas conhecidos sobre a depressão são emocionais, ou seja, manifestam-se na forma como o adolescente se sente. Alguns exemplos são:
- sensação de irritabilidade ou raiva, mesmo com assuntos irrelevantes;
- sensação de desesperança ou vazio;
- perda de interesse em atividades que antes geravam prazer;
- baixa autoestima;
- sentimento de culpa;
- fixação em erros passados, exacerbando opiniões negativas sobre si;
- necessidade excessiva de segurança e reafirmação externa;
- sensação persistente de que o futuro será ruim;
- pensamentos frequentes sobre morte e suicídio.
Mudanças comportamentais
Esses sintomas emocionais também podem se manifestar em sintomas comportamentais, os quais são mais fáceis de observar. Alguns exemplos são:
- cansaço e perda de energia;
- insônia ou sono excessivo;
- mudanças drásticas de apetite (excesso ou falta);
- pensamento, movimento ou fala letárgica;
- negligência com a higiene pessoal e aparência;
- automutilação;
- planejamento e/ou tentativa de suicídio.
Como mencionamos, a forma como a depressão se manifesta varia bastante, o que pode torná-la mais difícil de apontar com clareza. Seguindo o DSM-5, o indivíduo precisa apresentar, pelo menos, 5 das características citadas no Manual, sendo que duas delas devem incluir:
- humor deprimido e persistente;
- perda de prazer em quase todas as atividades.
Causas da depressão na adolescência
Entender os fatores que causam a depressão na adolescência é fundamental para evitar que esse quadro se agrave. Porém, assim como há uma grande variedade na forma como esse transtorno se manifesta, há muitos motivos que podem levar à sua manifestação.
No contexto da adolescência, muitas dessas causas são associadas ao ambiente escolar e ao familiar. Por exemplo, o adolescente pode desenvolver sentimentos de inferioridade ou inadequação por não conseguir obter uma boa performance escolar, não ser tão bom quanto seus colegas em determinadas matérias, por não se encaixar nos padrões de beleza, etc.
A adolescência também é um período de autodescoberta, o que leva a uma maior intensidade emocional. Como resultado, todo tipo de sentimento, desde angústia até alegria, tende a ser mais intenso. Por isso, períodos de grande estresse nessa época podem também levar a um quadro depressivo, especialmente quando não há uma rede de suporte adequada.
Um exemplo disso é o desenvolvimento da sexualidade. Adolescentes podem desenvolver sentimentos de inferioridade ou inadequação devido à rejeição sexual. Além disso, caso tenham orientação sexual diferente de heterossexual, há o risco de recriminação tanto por parte de seus colegas quanto da família. O mesmo se aplica para adolescentes transgêneros ou de outras identidades de gênero não cis.
Por fim, também é necessário levar em conta a predisposição genética do adolescente. Sintomas depressivos também podem ser causados por mudanças neurológicas, as quais modificam o humor e a forma como o corpo reage a estímulos. Isso aumenta as chances de o indivíduo desenvolver um Transtorno Depressivo Maior ao longo de sua vida.
Índices de depressão na adolescência
É difícil apontar um número exato dos casos de depressão na adolescência, visto que ainda há alguma dificuldade para identificá-los com clareza.
Algumas pesquisas se concretizaram ao longo dos anos, como é o caso do que foi relatado aqui no Brasil. No Sistema Único de Saúde (SUS), nos anos de 2015 a 2018, houve um aumento de 52% dos atendimentos em ambulatórios ligados à depressão, sendo que, para pacientes de 15 a 29 anos, esse índice chegou a 115%, conforme dados Ministério da Saúde.
Além disso, informações divulgadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, entre 2008 e 2018, ocorreu um aumento de 18,4% no número de indivíduos com depressão em todo o mundo.
Esses índices continuam em crescimento ao longo dos anos, uma vez que há diversos fatores que contribuem para um quadro depressivo em adolescentes. Uma possibilidade é que, com o menor estigma ao redor desse transtorno, mais pessoas vêm buscando ajuda e alcançando o diagnóstico. Porém, há também uma preocupação com outros fatores agravantes, como a falta de perspectiva econômica na transição para a vida adulta, maiores exigências na educação, entre outros fatores.
A pandemia também levou a um aumento dos índices de depressão em todas as idades. A falta de contato social contribuiu bastante para a perda de empenho e elevou o número de pessoas que passaram a ter sentimentos de apatia.
Lidando com a depressão na adolescência
Qualquer que seja a causa, a depressão na adolescência pode ser muito grave e deve ser tratada com seriedade. Desconsiderar esses sintomas, rotulando-os como “frescura” ou “fraqueza de caráter”, apenas faz com que eles se agravem.
Primeiramente, é necessário estar atento aos sinais. Todo adolescente deve interrogar a si mesmo sobre tais sentimentos e entender que eles requerem atenção. Além disso, familiares, amigos e professores podem observar as mudanças comportamentais que podem ser configurar como transtornos.
Acima de tudo, é importante buscar ajuda profissional para lidar com a depressão.
Um bom psicólogo vai auxiliar na identificação do problema, esclarecer quais são suas possíveis causas e, quando necessário, indicar a consulta com um psiquiatra para buscar medicamentos.